O PÁSSARO QUE NÃO SABIA VOAR

Luis Garcia/ Junho 9, 2010/ Contos/ 0 comments

Uma forma diferente de passar pelo tempo. Julgava que podia enganar os dias e o ritmo que se retira, com maior ou menos facilidade dessa complexidade a qual se conseguir atribuir um nome com quatro letras. É a vida… Porque é dela que se retira a música que embala os nossos passos no enredo que nos permitimos viver, já que muito provavelmente alguém nos diria, “é a vida…”.

Quando? Isso já deixa as proximidades da simplicidade e sinceramente torna-se tanto, ou mais difícil, que estarmos para aqui a divagar da vida e do resto. Como se houvesse resto. Eu era assim. Quando dei por mim estava a crescer. Fiquei surpreso e ignorei as tribos e os seus ensinamentos mais ou menos formatados. Arrogante, obtive o passe para o caminho que achei, tive a certeza que era o meu e descobri que não tinha assim tanta segurança como pensara ter a cada decisão orgulhosa.

Julgar os outros. Lastimavelmente torna-se tão fácil criticar de forma pejorativa, terceiros, como é simples abrir a boca e falar do que se não sabe, com a propriedade que é dos tolos, os piores, aqueles que se julgam sábios. Parei para pensar, e ainda que não tenha feito travão a tempo dou por mim a reconhecer que a juventude é um pau de dois bicos, dá-nos certezas e tempo para acertar na própria certeza, mas também uma enorme dose de capacidade para o erro reincidente.

As noites por vezes não me servem para dormir, e penso…. É como se estivéssemos todos numa corrida, mesmo aqueles para quem a competição não traz qualquer tipo de sentido. Parece-me que é mesmo assim que se pode olhar para a nossa existência, uma corrida que, por vezes parece ter todo o sentido do mundo, mas que de modo demasiado lesto se perde, provavelmente porque a meta que existe, não o é na sua essência, pelas razões que o deveria ser.

Um erro tremendo é pensar que se vai à frente. Foi assim que julguei que ia quebrar recordes, tão fácil e tão rápido como o meu próprio corpo parecia querer mudar. Profissional da aventura que a cada mísera conquista se compara aos veteranos e possui o crer suficiente para julgar que já fez mais que qualquer um deles. Mas afinal o que se fez é muito pouco, o outro lado do nada que não sabemos reconhecer como tal, enquanto temos tempo para admitir que erramos.

As asas dão-nos os espaço, acreditei sempre que ele existe para ser desvendado, uma e outra vez. A certa altura, melhor ou pior, todos temos de fazer uso delas e arriscar. Dizem que somos nós que temos de correr atrás da vida. Dizem que somos nós que não podemos ficar escondidos na quietude que é a da espera. Abrir as asas é muito fácil, dar o corpo ao espaço sem pensar na queda é para os corajosos e embriagados das sabedorias aeronáuticas. Magoar é uma palavra que me magoa.

Voar traz receios que não nos explicaram como ultrapassar. Voar mete medo e há pouco mais que eu consiga dizer. Não devia esconder-me por de trás das asas que me podem levar daqui para fora. Os pássaros foram feitos para voar, cruzar azuis e confundir-se nas imitações do algodão e abrir caminhos à força da velocidade, com a qual já só consigo tentar sonhar. Voar. Tudo aquilo que a certa altura terei de fazer é seguir o bando, porque o conjunto terá a maior probabilidade de rumar ao certo.

Quem não voa, só o faz porque se desfez de todas as artes que lhe deram para o fazer. Haverá quem lhe chame medo, arrogância ou um certo gosto pela solidão. Certo apenas que o tempo é ele próprio muito mais forte do que qualquer perspectiva que eu tenha do espaço. O vazio toma conta de mim e num instante demasiado longo apercebo-me que jamais saberei abrir-te os braços e voar na tua direcção. Perdoa-me meu amor. Perdoa a tua amante, a tua Julieta que te deixou partir pelo vício do medo de algum dia te perder. Voa…

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